Saturday, September 6, 2008

Inovação

Após um longo período retorno a escrever o blog.
Queria poder dizer que estava fazendo um retiro espírito-carnal em algum paraíso ainda não descoberto na terra, mas infelizmente estava trabalhando mesmo.
A razão da pausa do blog foi justamente a ausência de idéias criativas, já que nesse mundo globelezado que estamos é muito difícil pensar em alguma coisa realmente nova, realmente inovadora.
Minha empresa agora está promovendo a Inovação. Todo mundo fala que temos que pensar fora da caixa e enviar propostas "inovativas". Minha primeira idéia inovadora foi propor que todos na empresa deixassem de assassinar o português. Vetado.
Foi criado, então, o espaço para inovação. Um ambiente transado onde todos vão para lá para ter idéias criativas. Não funcionou, simplesmente dá um branco naquela sala. A mente humana parece só produzir idéias criativas quando não se espera nada dela. Um mês depois o espaço foi destruído para virar uma biblioteca. Eu ainda dei a idéia de trocar as poltronas da sala de inovação por vasos sanitários (é quando me vem as melhores idéias). Novamente vetado. 2 X 0 para eles.
Tentei pensar em coisas absurdas então: Luz negra. Já existe. Usei meu humor negro para me ajudar: Telefone para surdo. Outro sacana já inventou. Porra, telefone para surdo é sacanagem, parece aquele erro do windows: "Teclado não encontrado, pressione F1 para continuar". Depois eu é que sou mau.
Comida... Todo mundo gosta de comida, pena que engorda. Seria bom se inventassem uma comida que emagrecesse. Já imagino logo o slogan "Chumbinho: Você vai pesar menos que um bifinho". Já sei, já sei... 3 X 0.
Bom, o fato é que pelo menos o trabalho me trouxe uma idéia. Não é muito inovadora, é verdade, mas vou tentar continuar escrevendo o blerg, quer dizer, o blog.

Friday, September 14, 2007

Hipocrisia


Sentado a beira do canal penso na ânsia que sinto. Uma náusea que me revira o estômago vai até minha garganta. Não, não é o cheiro fétido do canal que respiro. Antes fosse.
Hipocrisia é o mal que me assola. A hipocrisia também fede... e muito.
Incrível como o hipócrita se acha mais esperto(leia-se "exxxperto") que todos. Nos julgam tolos, achando que não conseguimos enxergar suas artimanhas através da cortina de mentiras que tecem. Cortinas malfeitas cheias de pontos sem nós. Ainda se fazem passar por nossos companheiros de bar, de companheiros de jornada e de irmãos de sangue. De sangue só as lágrimas que de meus olhos escorrem.
Quando acontecerá a tão esperada anti-revolução de 64? Estou perdendo minhas forças. Será o medo vencendo a esperança?
Forço me a pensar que não. A pensar que quem desiste de lutar é o covarde e que a "lei do retorno" tarda mas nao falha.
Hoje meu céu está fechado. Nao vejo o cruzeiro que tanto me guiou em meus tortos caminhos. Será a hora de me atirar no canal?

Friday, August 3, 2007

Sexta-Feira


Hoje quero me embriagar, sem razão específica, mas por várias aparentes.
Quero entrar em um outro nível de consciência, deixar esse pensamento careta de lado. Fugirei do meu mundo ordinário e abrirei as portas da (in)consciência.
Nesse outro mundo sou rei e amigo do rei. Sou vilão e sou mocinho. Sou rock e bossa nova.
Passearei com Lucy em um céu coberto de diamantes. Me perderei com Jimi no meio da névoa roxa.
Mal posso esperar para encontrar com todas as pessoas que já se foram e que tanto tenho saudade.
Jogar conversa fora com amigos e beber cerveja estupidamente gelada que insistem em nos dar sem nos cobrar nada.
Ah, mundo mágico, cheio de praias, onde todo dia é domingo e onde todo domingo faz sol.
Meu único compromisso é de viver livre e espontâneamente. Lá não há filas nao existe engarrafamento. Nos jornais só têm boas notícias, não têm obituário. Todo dia tem jogo e meu time sempre ganha.
Hoje eu quero me embriagar. Hoje é sexta-feira e meu ônibus mágico parte daqui há pouco.

Tuesday, July 31, 2007

...




Quando você foi embora

Fez-se noite em meu viver

Forte eu sou, mas não tem jeito

Hoje eu tenho que chorar

Minha casa não é minha

E nem é meu esse lugar

Estou só e não resisto

Muito tenho pra falar

(Travessia - Milton Nascimento, Fernando Brant)

Friday, July 13, 2007

Pan e Circo

Dizem que nós brasileiros temos memória curta para política, mas como lembrar de tanta falcatrua, tantos capítulos dessas sórdida história. Da última vez que li os jornais a notícia era sobre um esquema envolvendo o presidente do senado e queriam sua renúncia.Ué, mas nao era o da câmara? Ou seria o da reública ?
Com tantos esquemas o reflexo se dá no povo brasileiro, que com poucas condições de vencer na vida acaba indo buscar sua sobrevivência na contravenção, no crime. Entretanto nossos governantes contaram com uma arma poderosa para se manter no poder, a seleção. O brasileiro fanático por esporte, projeta toda a sua esperança, todo o seu desejo de vencer na vida, na Seleção Brasileira. Quando todos nós estávamos assistindo a Copa do Mundo, na surdina, eles propuseram um aumento de 80% para eles mesmos. Isso logo depois do escândalo do mensalão.
Como a Copa do Mundo só acontece de 4 em 4 anos e nossa seleção não vai muito bem das pernas, é necessário achar uma nova cachaça pro povo se embreagar e não notar os absurdos que são feitos no Palácio do Planalto. Eles os lordes e nós os bobos.
O Rio de Janeiro, hoje, pode ser considerado um dos lugares mais violentos do Brasil. É possível ver isso nas suas referências. Antigamente conhecido por Tom Jobim, Cazuza e Copacabana, hoje tem em Fernandinho Beira-Mar, Complexo do Alemão e Tati-Quebra-Barraco, os seus expoentes. Lamentável.
A violência está tão latente que se faz presente até nos jovens da classe média, que espancam uma doméstica até quase matá-la e se defendem dizendo que a confundiram com uma garota de programa.
Talvez por isso o Rio precise mais de ilusões como uma das novas maravilhas do mundo e como os jogos Pan-Americanos. Entretanto, o governo brasileiro agora quer o Cristo para si. O Cristo é do Brasil. Os jogos Pan-Americanos são do Brasil. Todos querendo um pouco do ópio para oferecer para o seu próprio povo.
Ainda bem que a eleição da nova maravilha aconteceu agora, pois se nada for feito, em um futuro não muito distante o próprio Cristo vai ter que levantar as mãos ao alto em virtude da violência de nosso país.

Thursday, July 12, 2007

Proibidão


Saí de casa muito cedo, pelo menos para mim era muito cedo. Aos dezessete anos já morava em minha primeira república. Não senti medo com a idéia, na verdade ela sempre me seduziu.
Sair das asas dos pais, passar a ser conhecido pela primeira vez como eu mesmo, não como filho de alguém. Além de tudo, estava me mudando porque iria começar minha faculdade.O tempo de colégio, de adolescente, tinha ido embora. Pela primeira vez me sentia responsável. Talvez responsável seja uma palavra forte, mas com certeza eu já me considerava um adulto.
Minha mãe conhecia a mãe de um dos moradores da república e tinha me apresentado a eles. Conheci os dois caras, muito gente boa, mas como tinha sido uma apresentação formal,não deu para ver como era a rapaziada de verdade.
Quando chegava da faculdade sempre sentia um cheiro estranho no ambiente, parecido com defumação, mas meu colega que estudava de noite falava que a vizinha do andar de baixo era macumbeira. Não gostava da vizinha em questão, pois assim que tomei meu primeiro trote e cheguei todo pintado e fedido em casa, cruzei com ela pela escada e ela me deu o maior sermao, dizendo que eu estava sujando as dependências do condominio e blábláblá. Depois de saber que ela era macumbeira passei a tratá-la com certo respeito. Nunca fui chegado a pragas e mau-olhado.
Certo dia, cheguei em casa mais cedo e encontrei meu colega de república e um cara meio surfista no meio da fase de preparação de um cigarrinho diferente. Pelo cheiro, já tinha havido uma sessão antes.
Com o Bob cantando a plenos pulmões na sala, o pessoal só me notou depois que eu havia notado o flagrante, aí não restou outra alternativa a não ser me convidar para o ritual.
Depois que o surfista entregou o bagulho bem moidinho ("dechavado") pro amigo meu, vi que ele realmente tinha o dom. Tinha nascido para isso. Enrolava o cigarro com maestria e em um minuto ele preparou um baseado KingSize a prova de choques de até 100 metros. Podia arremessá-lo na parede que ele continuava compacto. Meu amigo teria vaga cativa na Philip Morris.
Acendemos o beque e começamos a fumar. Eu que nunca gostei de cigarro tive certa dificuldade, porque nem sabia tragar direito. Nas primeiras três bolas (tragadas) nao senti nada, mas na quarta. Ah, a quarta...
Não era muito chegado a reggae nao, mas o som tinha começado a ficar muito bom. De repente parecia que eu podia senti-lo através de todo o meu corpo, nao apenas com os meus ouvidos. Comecei a reparar na letra, meu inglês nunca tinha sido tão bom, pois eu conseguia enteder toda ela.
Meu olfato tinha ficado super potente. Quando cheirava minha mão, sentia como se ainda estivesse fumado o beque, que nessas horas já tinha ido todo para a mente da moçada.
Nessa hora o surfista falou que ia pegar um rango na geladeira, não sei bem o porquê, mas achei essa declaração muito engraçada e pelo visto não foi só eu que achei, porque nós três começamos a rir sem parar.
A partir desse dia, voltei a encarar a vizinha do andar de baixo sem medo.

Wednesday, July 4, 2007

Prólogo

No colégio onde estudava existiam 3 tipos de pessoas: os admirados que todos os garotos e garotas gostariam de ser ou de estar perto, os ignorados, que ninguém lembrava deles ou percebia sua presença e os rejeitados aqueles que ninguém queria ser visto junto. Eu, particularmente, me encaixava no último grupo.
Minhas expectativas nem eram tão grandes, sonhava apenas em passar despercebido pelo pátio durante o recreio ao invés de ter que fugir dos garotos que sempre me perseguiam pra me dar porrada.
Segui minha vidinha mundana até a festa junina da sexta série, quando encontrei com Fabiana. Fabiana, Fabi para os íntimos (o que definitivamente não era o meu caso), era uma gatinha da turma e pertencia ao grupo dos admirados. Não era uma fêmea alpha, mas estava entre as 5 melhores da turma, uma fêmea beta e assim sendo, era muita areia pro meu caminhão. Pra falar a verdade qualquer menina do colégio já era considerada muita areia pro meu caminhão.
Aquela noite prometia, ia chegar na festinha e tentar quebrar meu recorde pessoal. Tomar duas caipirinhas inteiras antes de voltar pra casa passando mal. Estava empolgado.
Quando cheguei na barraquinha de biritas vi Fabi. Como de costume não a olhei diretamente nos olhos e fiz cara de quem não a conhecia, afinal, desde a segunda série eu já ocupava o cargo de rejeitado. Já sabia muito bem como o sistema funcionava.
Pedi uma caipirinha para a tia da barraca e ouvi um oi de Fabi que olhava na minha direção. Olhei para todos os lados e não vi ninguém além de mim e da tia da barraca lá. Nesse momento tudo ficou claro para mim. Fabi estava falando sozinha.
Fabi, então, insistiu - "Oi Leandro". Naquele único segundo vi todos os momentos marcantes de minha vida passarem diante de meus olhos. Nunca um segundo tinha passado tão depressa.
Fabi sabia o meu nome. Fabi sabia o meu nome e tinha me cumprimentado. Fabi sabia o meu nome, tinha me cumprimentado e eu mijei nas minhas próprias calças. Tirando a parte de mijar nas calças tudo era novidade para mim.
Diante de uma oportunidade dessas pensei em várias coisas inteligentes para dizer. Como não é muito do meu feitio dizer coisas inteligentes, teria que plagiar algo que já tivesse lido ou ouvido.
Lembrei me das poesias de Vinícius de Moraes, das lições de filosofia de Jostein Gaarder e de "4 semanas de amor" de Luan e Vanessa, para finalmente dizer:
- "O-Oi, F-Fabi."
Conversando nos entendíamos perfeitamente, um completava o outro. Ela não tinha nada na cabeça e eu não tinha nada a perder. A noite passava sem ser notada por nós. Risadas aconteciam espontaneamente, embora o copo de caipirinha ainda estivesse completamente cheio.
Senti que o grande momento se aproximava. Percebia que meus sentimentos eram correspondidos por Fabi e iria beijá-la. Eu já tinha certa experiencia, conhecia beijos assistindo "Vereda Tropical" e já tinha visto minha babá em momentos íntimos com o porteiro pelo buraco da fechadura. Decidi então partir para o abate, mas Fabi previu minhas intenções e começou a esquivar-se. Podíamos ficar dançando esse mágico balé até o fim dos tempos, ou até que o copo de caipirinha derramasse em seu vestido. A segunda opção aconteceu primeiro.
Fabi desaparecia chorando rapidamente e levando com ela dois preciosos bens meus: meu coração em pedaços e a minha caipirinha em seu vestido.
No dia seguinte e nos outros que seguiram, fui motivo de chacota. Até que isso não era de todo o mal, afinal melhor ser sacaneado do que tomar porrada, mas Fabi nunca falou comigo novamente.
Essa experiência foi muito trágica para mim. Até então a coisa mais triste que tinha visto tinha sido a morte da mãe do Bambi. Algo tinha acontecido dentro de mim. Daquele dia em diante eu me tornei uma pessoa má e amarga. O medo enfim vencera a esperança.